Segundo uma lenda árabe, um elefante e um dragão lutaram até a morte na ilha africana de Socotra, a sudeste do Iêmen, fazendo brotar lá uma árvore cuja seiva é vermelha como sangue. Mas a ciência sabe que foi a batalha pela sobrevivência que encheu o lugar de plantas exóticas como s sangue-de-dragão. Há 10 milhões de anos, Socotra não era uma ilha. Seus 3 600 quilômetros quadrados estavam colados na África e faziam parte da atual Somália. De lá pra cá o nível do mar subiu e ela ficou isolada no Oceano Índico. Enquanto rinocerontes acabaram com a vegetação costeira em terra firme, a flora da ilha sobreviveu às mudanças ambientais. As espécies mais resistentes ao clima semi-árido, com ventos de até 43 quilômetros por hora, transformaram Socotra em um dos maiores celeiros de espécies endêmicas – aquelas que só crescem em um lugar – em todo o mundo. São quase 300 plantas que só existem ali, segundo o relato dos botânicos da Escocia Diccon Alexander e Anthony Miller, do Royal Botanic Garden de Edinburgo, publicado na revista inglesa New Scientist.
A Dracaena cinnabari, vulgarmente conhecida como sangue-de-dragão, é a planta que mais se espalhou pela ilha. É uma espécie endêmica remanescente, quer dizer, uma sobrevivente da flora que desapareceu no continente, uma planta com folhas carnudas, semelhantes às da babosa, pode atingir cerca de cinco metros de altura. Seu nome está ligado à sua resina de cor vemmelha, chamada cinábrio, extraída das folhas e das cascas do tronco e dos galhos. A população local usa essa substãncia para tingir lã e também como antiséptico bucal, matéria-prima para fazer batom e remédio para dor de estômago, desinteria e queimaduras.